Todos nós queremos o fim do mundo.

Todos nós queremos o fim do mundo.

Todos nós queremos que o Planeta X, Nibiru, Hercobulos ou seja lá qual nome, nos acerte. Realmente queremos entrar em uma nuvem de Fotons, realmente queremos que o sol exploda, que os polos se invertam ou qualquer outra dessas coisas. Queremos isso, essa é a verdade.

Mas não queremos simplesmente o fim, nós queremos algo diferente, algo que saia da rotina, um desafio, uma mudança. Os preços continuam aumentando, os velhos continuam a envelhecer e nós, aqui, continuamos a acordar todos os dias, esperando. Esperando aquela fagulha, aquilo que vai acender o pavio e finalmente, teremos um motivo, um objetivo. Se tudo mudasse, a vida se tornasse algo atraente e interessante, como um filme de cinema ou um bom livro, ninguém desejaria que um planeta misterioso do espaço sideral viesse do mais escuro buraco do universo e acabasse com nossa alegria.

Queremos nos sentir úteis, ter um motivo. Não é atoa que uma das nossas maiores perguntas é “Porque estamos aqui?”. Porque nos levantamos todos os dias para trabalhar e ter dinheiro para pagar taxas e impostos? Porque respiramos fundo para conter a frustração ao ver novamente o preço da gasolina aumentar, a inflação alcançar picos extremos? Porque olhamos para o céu com a esperança de que tudo isso mude?

Porque estamos aqui?

Aquele que olha para o céu estrelado a noite pode imaginar a infinidade do universo, como ele é absurdamente gigante ao ponto de sermos meros pontinhos nessa imensidão, menores do que grãos de areia no deserto. Tanto a ser descoberto, a ser buscado, tantas sendas que simplesmente não serão trilhadas porque temos que trabalhar para pagar a taxa de estar vivo.

Olhamos para o céu com a esperança de que tudo isso mude e que possamos ser felizes, queremos um cataclismo exatamente para sermos felizes, para o mundo inteiro perceber o quão inútil é essa vida através da economia, essa corrida pelo poder e pelo dinheiro. A revolução intelectual e espiritual que tanto sonhamos, o fim do preconceito, o fim das diferenças. Nada disso teria sentido quando estivéssemos no mesmo barco em meio a uma tormenta.

Aquele gay seria seu melhor amigo, aquele negro seu irmão, aquele judeu foi o que salvou sua vida e aquele cara com “cara de malandro” lhe deu o que comer.

É isso que queremos, paz, não o fim do mundo.

Mas amanha, dia 21/12/12, nada vai mudar. Não haverá planeta, meteoro, nuvem cósmica ou qualquer outra baboseira, apenas mais um dia.

A mudança vem de nós mesmos, que deixemos o mundo antigo para trás e construamos um novo, tolerante e igualitário. Mudemos sem a necessidade de um cataclismo, sem que um planeta nós acerte.

O fim do mundo à meia-noite.

Eu nunca imaginei o mundo acabando assim, desaparecendo como se minha visão estivesse escurecendo. Na realidade, as partes escuras do mundo já não existem mais, incluindo as pessoas que estavam naquele lugar.

A televisão me disse que o mundo iria acabar hoje, a meia noite. Bem, eles não mentiram, o mundo começou a acabar a meia-noite, como um programa de televisão, que acaba na hora marcada, mas somos obrigados ainda a ver os créditos, as letrinhas subindo.

Gostaria que Deus fizesse as letras subirem agora, sabe, naquele estilo… “Diretor Geral de Produção: Deus, Roteirista: Deus, Cenários: Deus” e assim por diante, até chegar na parte engraçada, que seria “José do Nascimento como ele mesmo, David Cavalcante como ele mesmo” e segue a lista de todos os seres humanos fazendo seus papeis de seres humanos.

Mas isso não importa, afinal, não teria ninguém para ler essa lista. E afinal, é difícil encontrar alguém que realmente lê aquela lista.

O mundo continua desaparecendo, engolido por essa escuridão que se arrasta lentamente, como um grande muro, engolindo a terra e as estrelas. Estou sentado em cima do meu carro, fumando meu ultimo cigarro, enquanto as pessoas nesse engarrafamento saem de seus carros e correm para longe, na esperança de que em algum momento essa escuridão pare e eles se salvem. Mas convenhamos, todos sabem que não ira parar, afinal, a televisão disse bem claramente: “O mundo vai acabar a meia-noite”.

Meu ultimo pensamento… Sempre pensei que iria pensar na minha família ou coisa assim, mas eles vão morrer também, como todo mundo, então não vão sofrer minha falta ou vice-versa. Se realmente existe vida além da morte, todos nós vamos nos encontrar e rir desse dia, onde corríamos como idiotas fugindo do inevitável. Meu ultimo pensamento esta mais focado no que estou escrevendo nesse caderninho e no meu cigarro. E sabe o que mais? Eu gostaria de fumar mais um cigarro, não quero que esse seja o ultimo. Será que consigo correr por cima dos carros e me sentar em outro teto, fumar outro cigarro? Quanto tempo será que demoraria, quatro ou seis minutos?

Que se dane, eu sei que é só o nervosismo. Para que adiar, vou esperar essa escuridão chegar logo, junto com alguns outros que estão fazendo o mesmo. Tem gente até que está correndo para lá. Hahahaha! Esses sim estão piores que eu!

Que seja, ninguém vai ler essa folha mesmo, deixa eu rasgar isso aqui.

Pronto, agora vou terminar e escrever algo atrás dela. Algo legal, que se realmente o mundo não acabar, vai ser legal de ler. O que poderia ser…

Ah! Já sei!

Todas as pessoas deveri-

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Fim do mundo a meia-noite é um pequeno conto, não sei se é bom, não sei se é ruim. Mas sei de uma coisa, finalmente, depois de um mês parado, conseguir escrever alguma coisa. Mas me fez pensar também. Meia noite para ele, no Japão o sol deveria estar rachando de quente!

Abraços e até o próximo post!