Uisque, chuva e Trip-Hop

É interessante como pequenos momentos em nossas vidas podem ter tanto impacto. São dez horas da manhã, está chovendo em Palmas, uma chuva gostosa que conseguiu esfriar essa terra que vive incandescente. Estou ouvindo Trip-Hop,  mais especificamente Portishead e tomando uma dose de uísque que ganhei ainda de dias dos namorados… É um Black Label.

Ouvir essa música me lembra do Fabricio, um grande amigo que agora mora longe. Lembra das conversas, lembra das risadas e do divertimento. Portishead me lembra o Fabricio, afinal, ele tem uma camisa preta com um “P” no formato do logo da banda, também me faz recordar quando mostrei para ele à venda um CD da banda, uma edição especial que vinha com um pendrive em formato de “P”. Imaginar que agora, eu nem sei o que ele está fazendo nessa manhã…

O uísque me lembra minha namorada, Daiane, que eu tanto amo. Nesse momento, ela está trabalhando no escritório de advocacia de seu pai. Me lembra de uma noite que ficamos aqui em casa, bebendo uísque e ela vodka com yogurte, sentados na área de casa, falando sobre coisas da vida, sobre o futuro, sobre sonhos…

O gosto do uísque não lembra tanto quanto o cheiro, ainda que sejam parecidos. O gosto me lembra o Brenno, um outro grande amigo. Nunca tomei uísque com ele, mas sempre quis. Eu guardei essa garrafa até hoje, tomando pouco e sempre economizando, para quando ele me visitasse de férias, ele também pudesse experimentar, mas ele não veio. Não o culpo, nem sempre temos no bolso o que é necessário para vermos os amigos distantes… Eu também não tenho. Mas tenho momentos em minha memória, sorrisos, piadas e socos. Vários socos. Mas nenhum que realmente machucou…

Momentos…

Esse momento agora me lembra a infância, onde eu andava de bicicleta logo após a chuva acabar, tentando me perder em uma cidade pequena do interior. Nunca consegui, ainda que meu senso de direção seja pior que um cego jogado de um avião em alto mar.

Tem um cheiro amadeirado, talvez do guarda roupa e das roupas já há um tempo guardadas, que me lembram Porto Nacional, a outra cidade que morava. Me lembra quando todos os amigos se juntavam e iam jogar RPG, e quando chovia, ao invés de dizermos “Cara, como seria bom namorar nessa chuva” dizíamos “Cara, como vai ser bom jogar RPG, agora que o clima está fresco”.

Essa musica… Me lembra quando escrevia Personificae, quando me isolava para entender melhor a solidão, e também, para aprecia-la.

Essa leve sensação alcoólica me lembra o Pedro, outro amigo, que costumamos beber e conversar até altas horas, perdendo a noção de tempo, conversando sobre assuntos que vão desde motos, até vidas em outros planetas, o sentido da vida, do universo e de tudo mais…

É um Black Label… Não é um uísque ruim, pelo contrario… Para mim, nesse momento, é o melhor uísque do mundo. Pois só de aprecia-lo, me traz a recordação de todos meus amigos que carrego aqui, no coração.

É por isso que as vezes, eu me confundo no que é felicidade. Os momentos que passei com os amigos e com minha namorada, eu não trocaria por nada. Os momentos que perdi conversando com pessoas que nada me acrescentaram, eu até trocaria por algo mais valioso… Ou talvez não. Afinal, se eu não soubesse o que não presta, como poderia avaliar o que presta, a amizade de meus amigos, a confiança?

E agora, essa combinação também vai me lembrar de você, leitor. Ao escrever, imaginei o que você pensaria ao ler isso, memórias de outra pessoa, comentários de outra pessoa… Nada que realmente vá mudar sua vida ou acrescentar algo ao seu intelecto… Mas talvez eu disperte em você, sentimentos nostálgicos que o faça lembrar de como é bom conviver com as pessoas que você ama.

É esse sentimento nostálgico, que me ataca em uma manhã de quarta-feira, que é o que eu gostaria de compartilhar com meus leitores hoje. A sensação de que estou vivo, pois tenho um passado e lembranças, que guardo com carinho comigo. A sensação e que amo, que sou amado e que vale a pena viver.

 

 

 

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5 pensamentos sobre “Uisque, chuva e Trip-Hop

  1. Pingback: Uisque, chuva e Trip-Hop (via Demétrios Miculis em palavras e pensamentos.) | Beto Bertagna a 24 quadros
  2. Suas palavras me tocam como sempre, sou sua fã. Mas podemos trocar o black label por algumas skoll??? Claro né, nesse calor todo….rsrsrs. Saudades de voces e desse calorzao insuportavel…..rsrs….

  3. Gosto da sua forma de escrever, consegue evocar todos esses sentimentos a medida em q lemos, deu pra viajar um pouquinho contigo. ^^

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